Nosso bem mais precioso é o tempo e o lugar mais especial é o espaço. Chove, chove há dias. É domingo. Me deparo com uma despensa vergonhosa de embalagens fechadas de mais de ano para uma possível ocasião especial. Não que as ocasiões especiais não tivessem chegado, mas eu não lembrei do passado para viver o especial que apareceu. Bem pelo contrário, o novo me fascinou. Dediquei meu tempo ao presente.

Mas as vezes tive medo e guardei. O que eu não entendia é que o que importa mesmo a gente não esquece. Não precisa guardar. Guardar não é lembrar, é entulhar. Conhecemos bem nosso entulho embora sempre esqueçamos que ele existe. Isso é o mais curioso de tudo, guardamos para não esquecer mas esquecemos do que guardamos. E quando mexemos lá, às vezes escolhemos guardar de novo, aterrorizados com a idéia de se despedir. O que eu vi hoje depois de descartar todas as possíveis ocasiões especiais que imaginariamente criei na minha cabeça, foi espaço. Espaço não se guarda, se tem. E o tempo só pode agir onde tem espaço. E quando se tem espaço coisas inusitadas aparecem como um presente. É isso que aparece: o presente. E esse presente se chama água corrente e é vida! E nem por isso não sabemos que ele já foi uma nascente….mas ela precisa fluir, desentulhar para chegar no mar. Nosso presente é consequência do passado rumo ao futuro.

E isso não é final feliz não, estar vivo é um trabalho tecido manualmente todo dia. E se fosse fácil, todos faziam naturalmente. Às vezes flui, às vezes entulha, às vezes remexe.

Seja o que for, quando estiver no sufoco, olhe para seus entulhos. Espaço é poder ventilar a vida.

Eduarda Renaux

#palavracolhida #malaquita

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