O medo era o fiel companheiro dela. O que ela não sabia é que se tratava de um triângulo amoroso. Ela, o terrorista e o medo. Acontecia que o terrorista adorava usar trajes de amor, ternura e asas de anjo.
O mensageiro do medo a esperava todos os dias de braços abertos e a alertava sobre os riscos do mundo. Muito assustada, deitava em seu colo e agradecia por ele estar lá, a protegendo de tudo que poderia dar errado no mundo ali fora.
Às vezes quando ele se distraia, ela até arriscava algo novo, mas entrava em pânico sem a segurança do bem intencionado protetor. Sem ele, ela ficava inconsequente, sem freio e podia ir longe demais. Longe demais nas palavras, nos atos, nas ousadias, nos desejos ou até quem sabe longe demais dele. E quando isso acontecia ele ficava “fofamente” magoado e mostrava tudo que poderia ter acontecido de ruim caso ela fosse para longe novamente. Essa cena se repetia com frequência incalculável até virar uma rotina despercebida.
Quando ela conseguia achar isso tudo muito estranho num lampejo de lucidez, ela dava o clássico piti. Nessas horas ele a repreendia e provava com toda sua racionalidade que era mais uma de suas crises de histeria.
Falando em histeria, aos pouquinhos, ela já manca pelos golpes indescritivelmente afetuosos dele, já não andava mais. E tamanha era a generosidade desse companheiro que ele mesmo passou a se oferecer como bengala para que ela pudesse andar. De tanto açúcar para disfarçar o sabor amargo que existia, a dependência era um caminho sem saída.
Ela louca, mensageira de uma verdade. E ele com sanidade, mensageiro de uma loucura. Loucura essa de disfarçar pequenas lesões diárias em ternura.
O terrorista é aquele que lesa o outro na justificava que o fez para salvar algo maior. A violência silenciosa é tamanha que saber qual a diferença do terrorista e do herói se torna impossível. Ele não se mostra, deixando que toda e qualquer crise venha do outro. Ele está protegido pela dita “loucura” alheia. Sua maior arma é fazer do outro um escudo.
Brutal violência essa velada de boas intenções e amor. Dos assassinatos, seria como a de um corpo desaparecido, onde as provas do crime ficam ocultadas nas malhas de uma bondade forjada. A única pista é a lesão na alma.
A chance de reverter a tempo está em nunca subestimar um dito “piti”. Pois por maior que seja o desconforto, sem dúvida existe uma mensagem de uma verdade. Ainda que por ser decifrada…
Eduarda Renaux