Jogada no sofá no auge de seus três anos de idade, sem muito entender sobre o desenho que assistia, apenas ria muito com os tombos dos personagens na neve, dos ataques de fúria do Pato Donald que chegava a deixa-lo com as penas vermelhas, dos abraços apertados da Pata “sem nome” e a alegria dos patinhos de uma festa sem fim.

Nesses poucos porém intensos anos de vida o que valia era cada constatação de familiaridade com seu cotidiano, como a raiva quando contrariada, as péssimas tentativas de afofamento dos adultos quando o que se quer é liberdade de ir e vir, e principalmente, o desejo de uma farra sem limite todo dia, o dia todo.

Quando completou seu terceiro aniversário, divertiu-se tanto que pediu aos pais para dormir com o vestido da festa pois não queria que o dia acabasse. Embalada nesse tema, os olhos vidraram no desenho sobre esses três patinhos que por amarem tanto o Natal desejaram que todos os dias fossem dia 25 de dezembro. É comum na infância desejos virarem ordens. De tão desejado, aconteceu: Natal para sempre.

Não tardou para que os patinhos ficassem exaustos e entediados com a festa diária. O que antes era único e por isso especial, virou mesmice. Que sina! No último dia de repetição natalina, os patinhos não infernizaram mais o Pato Donald, aceitaram os afagos apertados da pata, serviram a mesa, convidaram Tio Patinhas para tocar piano. O calendário voltou ao normal, pois essa era a maldição: a página só pode ser virada com o verdadeiro aprendizado.

Aprender é custoso e leva um tempo impreciso. Por vezes ficamos estagnados num mesmo lugar até que dessa prisão se desate o que nos manteve numa infinita paixão pelo mesmo momento.

A repetição é inimiga da novidade, abrigo da identidade, enigma do sofrimento, trilha para a sabedoria.

Como a onda que toma força antes de avançar na areia, fôlego rude comparado a delicadeza do toque com que a água vai avançando ao chão, viemos e voltamos do desconhecido das águas até a segurança da terra firme. Desse vai e vem, inventamos o que fazer com as ondas. Definitivamente se a felicidade virasse rotina, ela se transformaria em alguma outra coisa que não alegria. Os tons vibrantes só se destacam diante dos tons neutros.

No fundo todos podemos ser um pouco “surfistas” com a vida, com a paciência necessária para esperar a melhor onda. Por vezes a pegamos, outrora levamos caldos. A dificuldade dos movimentos fica por conta da sensibilidade adquirida com as vivências e um tanto de criatividade de cada um.

Só é possível celebrar o dia de alegria suportando o dia de luta. Só reconhecemos a valiosa e rara vida confrontando a morte. Não caia como um pato de que o bom mesmo é férias e vida sem fim!

Enxergar e sentir o tempo com menos medo do amanhã…

Amanhã pode ser outro e novo dia!

Eduarda Renaux

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