Ela estava pensando no nada e em tudo que dentro do nada existia. Até que uma pergunta de precisão cirúrgica lhe furou a nuvem do pensamento. Caiu de lá do vazio no que muitos chamam de “choque de realidade”. Se o chão era a realidade, a garota enfim, beijou o chão. Mas não quis ficar lá por muito tempo. Não suportou a dureza da realidade e foi tentar divagar novamente. Ela ainda existia mais na fantasia do que na realidade.

Na verdade, na realidade é como se ela não existisse, pois se pensava louca demais para existir no chão. Mas agora já era tarde, seu pensamento não conseguia mais ser sobre o nada. Mas um pensamento sobre a pergunta.

Começou a questionar, se na verdade, não era a pergunta a responsável a lhe dar um chão. Já não sabia mais se estava nas nuvens ou na realidade. E tudo isso porque escutou a pergunta.

Sabia que desde sempre não tinha nada de concreto para se apoiar. No fundo, sabia também, que as nuvens de longe pareciam consistentes mas de perto era um vazio. E por isso vivia de angústia, paranóia e fobia.

A garota era louca mas de muita sabedoria. Estava se sentindo diferente e compreendeu que poderia estar experimentando pela primeira vez o que é ter finalmente um chão. Mas ainda era um apoio muito precário porque era feito de apenas uma pergunta.

Viajava com frequencia. Até para fora do país ia vez ou outra. Mas se fosse para sair, queria ir para longe. Mas ela tinha medo de avião, de altura e de se perder na multidão. E foi quando estava perdida na Conchinchina na Asía, após já estar cinco meses por lá, que a pergunta que lhe furou o pensamento e lhe deu o precário chão apareceu: “Óhhh menina, por que tu não gostas de geografia?”

“Mas gosto de história”, respondeu a menina. E um bombardeio de novas perguntas de próprio punho apareceram: “Mas seria história uma geografia contada?” “Sabemos o que sabemos porque articulamos a geografia historicamente?” “Seria por isso que nas escolas a história é sempre sobre guerras, povos, descobrimentos e geopolítica?” “O que é mesmo geopolítica?” “Seriam as pessoas mapas históricos?” “Seria, então, eu também um mapa e minha origem a bússola que me (des)norteia?”

E a menina que sempre se admirou por gostar de história, através de uma pergunta se localizou no mundo. Porque agora entendia que o excesso de história sem geografia a enlouquecia. Mas que também não era sanidade que lhe faltava, mas bússola e mapa para sair da errância.

“A qual a distância uma pergunta pode lançar alguém na vida?” Se isso era questão de história ou geografia, isso ela não sabia.

Eduarda Renaux

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