Com frequência o tema empatia tem sido compartilhado nas redes sociais através de textos, artigos de revista e em palestras. O tema não é nada novo, mas seu destaque é particularmente recente. Em tempos de “tolerância zero”, uma sociedade partida em polos extremistas, opiniões pouco construtivas e muito demolidoras, a empatia é um convite a refletir a diferença.
O termo empatia é corriqueiro, chegou a virar clichê e sua definição por vezes é mal utilizada. Confunde-se, muitas vezes, empatia com a capacidade de se colocar no lugar do outro, que seria encontrar semelhanças de sentimentos diante de situações sofridas da vida. E ai os equívocos podem acontecer: porque empatia não é a busca por semelhanças, mas a busca por diferenças. Quem vai trabalhar de forma bem interessante essa perspectiva é o Dr. Flávio Gikovate. Fica essa indicação para quem quiser aprofundar o assunto.
Mas como podemos entender essa busca pela diferença? Ao nos colocarmos no lugar do outro frente a um problema, nossa tendência é achar que o outro pensa como nós. Mas o outro é um sujeito com uma história, com uma vida, com afetações muito diferentes das nossas. O outro não é uma extensão nossa.
Definir empatia como aquilo que sentiríamos frente a uma situação que o outro esta vivendo e buscar a identificação é de certa forma violento e pode gerar consequências grosseiras.
Se tomamos o outro como um ser diferente de nós, precisamos entender a forma como ele pensa e sente, ou seja, reconhecer e buscar nossas diferenças para que ai possamos de fato “estar no lugar” dele e compreende-lo. E o único modo de exercer a empatia é através da escuta, ouvidos atentos. E hoje parece que todos temos muito mais para falar do que para ouvir. Me parece que no “reino das opiniões”, alguém que empreste os ouvidos é raridade.
Se colocar na situação do outro é muito distinto de se colocar no lugar do outro. Quando nos colocamos na mesma situação que o outro, tentamos colonizar nossa verdade, reproduzir nosso funcionamento no outro. O sujeito que se coloca na situação, tem muito o que falar e pouca disponíbilidade em ouvir.
Inevitavelmente sentimos irritação com a outra pessoa, que pensa ou age de forma diferente de nós, pois nos parece incompreensível. Projetamos muito e sofremos com nossas próprias projeções. A projeção significa aquilo que esta dentro de nós, que faz eco, se deforma e é colocado no outro, de forma não intencional e muitas vezes não perceptível para o próprio sujeito.
Um psicólogo que não é empático, corre riscos não porque é menos compreensivo com a dor do outro, mas porque pode se identificar com o problema do outro, com a vida do outro, confundir-se com o paciente.
E por isso a empatia é fundamental na clínica. Pois se supõe que o profissional possa ir o mais desprovido de pré-conceitos, com a cabeça mais arejada possível de suas pessoalidades para poder compreender o outro que sofre. Mas acredito que a empatia não é restrita a clínica. Ela deve circular no laço social. Exercer a empatia é exercer a diferença, a separação das colagens que produzimos. Algo tão necessário nos relacionamentos. E por isso acredito que a empatia é um desafio diário de cada um de nós. Estar junto de alguém, é diferente de estar misturado com ele. Quando estamos misturados, a diferença é sempre violenta e agressiva.
A empatia pode ser uma luz nessa escuridão que se formou frente ao radicalismo atual, chamado por muitos de “o retorno da idade das trevas.”
Quando ficamos mais tolerantes com a diferença, ela passa a ser menos ofensiva e mais reflexiva. Como outro pensa? Por que pensa diferente de mim? Como posso me solidarizar com aquilo que não combina com minha forma de pensar? Estou despido dos meus pré-conceitos? Estou disponível a ouvir? Quem sabe “essa onda de elocubrações sobre empatia” seja um disfarce de pedido de ajuda de nossa sociedade: mais tolerância.
Desafios! O convite esta lançado a todos.
Eduarda Renaux
Psicóloga Clínica