Era um vez, um porquinho espinho que chorava desesperadamente por não poder brincar com os balões. Toda vez que tentava chegar perto deles…BUUMM…eles estouravam.

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O guarda florestal resolveu que precisava ajudá-lo de alguma forma e teve uma idéia brilhante:

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Após colocar as inúmeras rolhas em seus espinhos, o porquinho pode alegremente brincar com os balões.

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Essa história, retirada de um livro para crianças, é um valioso ensinamento também para os adultos.
Quantas vezes desejamos aquilo que parece tão incompatível conosco? Nem tudo nos serve como uma luva.

E indo mais além, o que arrasava o porquinho, seus espinhos, era também o que lhe protegia. Uma mesma característica ora é uma força, ora uma fraqueza.  Quando nossos sonhos parecem ir na contra-mão de nossas características, nosso jeito próprio de ser, é fato que precisamos ser mais inventivos. Mas com frequencia desistimos ou seguimos tentando da forma já prevista para o fracasso. No caso do porquinho, querendo brincar, estourava os balões. Sempre. Protegido, mas isolado deles.

Buscamos resultados diferentes utilizando as mesmas ações! E por vezes, já nem tentamos mais. No que implica tentar mais do mesmo, mesmo sabendo que o resultado é o sofrimento?

Se o ser humano é movido pelo prazer e satisfação, como pode o sofrimento ser um fiel companheiro? Sim, Freud Explica e clinica! Este pensador, através de sua experiência clínica, percebeu que sofremos de compulsão a repetição,  tema minuciosamente trabalhado no texto “para além do princípio de prazer”.

Por vezes, no que a consciência sofre, o inconsciente busca sua satisfação. Um exemplo generalista e superficial: Sofro com a sobrecarga, mas necessito da dependência do outro para lidar com minhas próprias inseguranças. É sofrimento mas é também satisfação. “Eu sei que é errado….mas é mais forte do que eu…não consigo mudar”

Nem sempre a solução está a vista e a pronta entrega. E nem sempre querer é poder. O caminho é mais elaborado e teremos que criar nossas rolhas. Nesse lindo conto, existe uma subversão do conceito da rolha. Ela não tapa um buraco, não vem para tamponar uma falta. Mas vem como um algo a mais, uma invenção, um enfrentamento do problema através de um ato criativo na relação com o outro (guarda florestal). Um encontro que transformou o porquinho.

Diferente das rolhas de fuga e anestesiamento – comida, compras, bebida, medicação sem indicação, etc, etc… (Inclusive trabalhado no texto anterior – “Pote de purpurina”). O encontro com o objeto é sempre falho, equívoco. Mas o encontro com o outro pode transformar caminhos.

Mesmo refletindo no “fora” a mudança vem de “dentro”. E como saber a diferença? Ora, uma é mais do mesmo, a outra é única e particular, de fato uma mudança. Todo dia existe a tentação de criar rolhas para o outro que sofre. Mesmo assim sigo apostando na produção que um encontro possibilita.

Então, Desejo muitos balões (desejos), espinhos (características impares) e guardas florestais (bons encontros). Isso já é o suficiente para uma boa história…

Qual será a sua rolha?

Imagens: Livro “O porco espinho e os balões” de Nick Butterwoth

 

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