UM POUCO SOBRE CULPAS NEURÓTICAS E A RELAÇÃO COM A MÃE…

“Não que minha mãe seja uma má pessoa, eu amo ela, ela é maravilhosa…MAS”, “Já ouvi falar que para a psicanálise tudo é culpa da mãe”…

Para quem trabalha com a clínica sabe que essas frases escondem o obvio: quando estamos em análise, não estamos falando da mãe da realidade, mas da mãe da realidade psíquica. Cada um tem a sua mãe da fantasia e que claro, essa fantasia esta encarnada na mãe da realidade.

As mães carregam um fardo pesado, pois elas são as figuras mais onipotentes e onipresentes na vida dos filhos na primeira infância. Elas são as primeiras com as quais que apoiamos nossa construção de desenvolvimento na vida. Por isso, os pais são fundamentais, pois apontam que existe vida para além da mãe. Mas a verdade é que muitos, ainda guardam dentro de si, a mãe onipotente.

Conforme vamos nos constituindo, vamos criando uma versão do que a mãe quer de nós e logo, o que o social espera de nós. Mas essa versão esta muito mais ligada ao nosso universo psíquico do que dos erros e acertos de uma mãe. “Uma mãe sempre quer o melhor de seu filho” MAS um filho como um sujeito diferente dela, pode ter desejos diferentes e discordar dela (isso é muito saudável inclusive).

Nesse sentido, a culpa esta ligada a uma frustração de não ter correspondido aos supostos ideais que ambas as partes criaram.  Tudo que causa uma frustração, automaticamente queremos buscar uma resposta. E o ser humano é alienado em fazer de uma resposta uma investigação por culpados.

Funcionamos nessa lógica. E Freud, pensador perspicaz e profundo estudioso do aparelho psíquico, nos presenteou com obras recheadas de constatações clínicas sobre o sofrimento humano e que subverte essa lógica da culpa. Em um dos seus primeiros casos sobre histeria, o pai da psicanálise, vai dando conta que o que esta em jogo numa análise não é a verdade da vida, mas a verdade do sujeito.

Não sofremos por acontecimentos puros da dramática existência, sofremos das versões que nós mesmos criamos em nossa subjetividade para dar conta dessa existência. Culpar a mãe por toda a catástrofe que vivemos é supor que a mãe ainda é onipotente em nossas vidas e que tudo seria diferente se a mãe tivesse feito algo por nós. É fato que existem mães que são cheias de limitações e fracassam na maternidade. Mas não podemos virar escravos das limitações do outro, ou exigir o que o outro não tem para dar. Podemos mudar a nós mesmos, realizar as travessias a partir da mãe, do pai, do irmão que nos habita, e nem sempre são aqueles que dormem no quarto ao lado, mas que agem em nós.

Então, a psicanálise não possui a pretensão de culpar a mãe, mas fazer falar a mãe da fantasia, essa sim, fundamental. E com certeza, uma análise bem conduzida, com o tempo, irá transcender a culpa. Achar culpados é fechar a questão e ficar na impotência.

Não culpar a mãe é um dos efeitos mais dolorosos, pois nos vemos sozinhos, de que nossa vida é solitária, esta nas nossas mãos. Não existe um ser onipotente capaz de fazer calar toda as nossas angústias. Esse é o nosso desamparo estrutural. Quem sabe seja essa culpa que as mães tanto se queixam: Por que cargos da água dar a vida é também lançar nossos filhos nesse desamparo inerente a vida? Isso transcende a possibilidade de qualquer mãe. E isso automaticamente, nos implica em nossas próprias vidas.

Para fazer refletir o quanto a força pode estar dentro de nós, e que ser filho também não é esperar que a mãe faça por nós, desalienando dela, um belo vídeo abaixo.

O que podemos aprender com essa mamãe pata e esses patinhos?

 

 

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