Em uma carta angustiada a Françoise Dolto (Psicanalista Francesa), uma garota relata que possui forte bloqueio para falar a língua paterna – árabe. Já a língua materna – francês – isso não ocorre. Entende árabe, mas na hora de falar não consegue. Ela finaliza a carta:

–       Poderias me explicar o que acontece?

Eis que a psicanalista diz:

–       Ora! Explicar, explicar….supere!

Eis um ponto fundamental: explicar, se explicar, pedir explicações….o nome disso é neurose! Essa psicanalista sensacional, de forme breve e pontual esta nos dizendo: para além das explicações deve haver motivações para a mudança. E é isso que muitas vezes fracassa na análise e nas terapias.

Que todos precisamos construir hipóteses sobre nosso sofrimento, relembrar nossa história, repetir nossos conflitos no vínculo com o analista, isso me parece claro e fundamental no cotidiano de quem trabalha com a cínica. Os impacientes que me perdoem, mas calma é fundamental para ouvir os que sofrem. O furor da cura, de logo querer resultados é uma armadilha narcisista que todos os terapeutas correm o risco. Tratar-se toma tempo e dor.

Acontece que, algumas terapias e análises acabam se resumindo em uma série de explicações que não levam a mudança. É como uma roda atolada, gira, gira e não sai do lugar. Muito indagativos, por que? Por que? Por que? Não associam pois o prazer não esta em buscar elementos que auxiliem a encontrar uma saída. Querem a explicação e ponto. Mas dada a explicação, o que muda? Por isso, analistas tendem a ser criteriosos no silêncio. Não cabe a eles a resposta as dores singulares de cada alma. Mais importante que as respostas do analista, são suas perguntas, suas pontuações e suas intervenções.

Para os que se ocupam das enfermidades físicas, isso muda radicalmente. O dia que um médico falar: Não posso falar de sua perna quebrada, a resposta esta com você! Indique-o a uma terapia urgente!

O que proponho aqui é que para se curar do sofrimento psíquico não bastam perguntas, deve existir desejo em resgatar o que causou tamanho dano e se propor a trabalhar. Sem uma perna, não se caminha! É um trabalho a dois. A caminhada pode ser longa, mas que caminhe! No desejo de sair do lugar…

Para ser breve e objetiva como na citação acima, diria: Tem pessoas que sofrem, mas gostam de estar onde estão. Isso não é um julgamento, devem ser respeitadas, o tempo do desejo chegará um dia. Mas os clínicos não podem ficar de plateia assistindo e saudando as indagações vazias de sentido. Ou mesmo trabalhando por elas…

Se a clinica é um exercício de resgate da autonomia do sujeito, como permitir que andem por seus pacientes? Essa é a ética do profissional!

Se você sente que sua terapia esta atolada, reveja teu desejo frente a análise, ou reconheça que uma troca de terapeuta se faz necessário. Não é para tudo que existe uma explicação, mas para tudo se existe uma escolha. O paciente é também responsável pelo seu espaço de análise. Essa é a ética do paciente!

Como nos diz Foucault: “a ética é a liberdade refletida”.

Finalizo com a seguinte indagação: O que te faz sair do lugar?

Desejo liberdade e ética em nossos caminhos!

Com carinho,

Eduarda Renaux

 

 

 

 

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