NEM TAO PERTO QUE SUFOQUE, NEM TAO LONGE QUE ABANDONE…

Há dois dias mais ou menos, vi uma frase no Facebook que dizia o seguinte: “A vida não vem com manual de instruções, mas vem com uma mãe“. Essa frase, dentre tantas outras divulgadas, foi a que mais cativou minha atenção e hoje no dia em que é celebrado o dia das mães acho que compreendi em parte o porque de sua veracidade.

Muitos podem vir a pensar que esse dito alerta a importância de se ouvir o que uma mãe tem a dizer e seguir a risca seus conselhos. Porém desconfio que sua beleza esta no fato de que é na relação com a mãe que nos constituímos e inscrevemos uma forma de operar. Sabemos algumas coisas de nossa forma de viver no mundo, outras já não temos tantas notícias assim. Agimos sem saber ao certo a que regras e a que instruções estamos seguindo. A mãe é a pista, a peça fundamental do quebra-cabeça.

Todos sabemos disso de alguma forma, pois não por acaso elas protagonizam as nossas narrativas queixosas, reivindicativas ou de admiração, amor incondicional. A ambivalência amor e ódio é o cenário que colore os mitos familiares que cada um vai construindo para apresentar sua história.

Freud, em toda sua teoria fala dos desejos e amores familiares. Ele inaugura e apresenta um dado clínico fundamental: um bebe é uma extensão da mãe e o processo de separação é dolorido, e por vezes traumático. Mas sem essa separação se fundam as neuroses e as perturbações psíquicas graves. Traduzindo: Se cai antes da queda, se soprar a casa cai!

Mas é humanamente insuportável para uma mãe deixar de sua cria tão facilmente, é necessário uma ajuda. Essa ajuda, na maioria das vezes compete naquilo que o desejo da mãe esta para além do seu bebe. Na maioria das vezes é o pai. Mas pode ser o trabalho, o grupo de amigas, a escola, o namorado. O problema é quando a mãe vive só pelo seu bebe. Qualquer separação é por demais dolorida para essa mulher que dedica exclusivamente seu tempo a sua criança.

Winnicott um psicanalista muito interessante que ocupou boa parte da carreira em compreender a relação mãe-bebe traduz a importância de uma mãe suficientemente boa. A mãe suficientemente boa é aquela que se faz presente mesmo quando não esta colada ao lado. Ou seja, é uma presença na ausência. É desta forma que passamos as dificuldades na vida sem cair no desamparo, não nos sentindo tão só no mundo, sem criar uma relação de profunda dependência. Lembrando que deslocamos essa relação de dependência para outras pessoas.

Para pensar um pouco nessa questão da dependência e desamparo me ocorre a mãe canguru. A mãe canguru é aquela que carrega o filho literalmente dentro de si, não o deixa desbravar o mundo. Trata o filho como um eterno bebe e frente a qualquer dificuldade seu primeiro intuito é joga-lo para dentro da bolsa. Nesses casos, tanto para a mãe quanto para o filho, a casa é o único lugar seguro.

Prefiro pensar na mãe coruja, que já é carinhosamente conhecida por todos. Para a mãe coruja o zelo e proteção se da pelo o olhar, mesmo que distante. Quando percebe o perigo, agirá com agressividade se necessário. Mas saberá a hora de retornar ao galho. Ela observa os filhotes aprenderem a voar e intervem quando necessário. O filhote sabe que não esta sozinho, mas não exige que a mãe faça por ele. Afinal, ah de se responsabilizar também os filhos dependentes, ao contrário do que as mães se queixam, nem sempre a culpa é da mãe! Deixemos as culpas de lado e façamos valer as responsabilidades. De culpas já sofremos demais na vida!

Ser mãe não é instinto, inclusive deixamos ele em segundo plano desde o momento que o ser humano aprendeu a falar. Ser mãe é um desafio diário, é relembrar a condição de filha, é errar tentando acertar, é acertar sem se dar conta. Ser mãe é fazer presença, e também saber se ausentar. Por isso ser mãe é a arte do nem tão perto que sufoque, nem tão longe que abandone.

Ser mãe é uma função! Qual? Dar vida! Tanto a fisiológica como a psíquica, possibilitando que o filho possa criar uma imagem unificada de si, achando um lugar no mundo, saindo da condição de pura extensão da mesma. Enquanto a vida só gira em torno da mãe, não teremos uma vida própria, mas a vida dela.

Mães tem defeitos não porque são mães, mas porque são humanas. Quem sabe o defeito que de fato é mais frequente em uma mãe é achar que tem de dar conta de tudo sozinha. As mães cangurus sofrem mais disso.

Se seu filho se queixa de você, não se preocupe! Esta para nascer o filho que acha que tem a mãe que gostaria. Compreender e admirar a mãe pelo o que ela é e fazer proveito disso vem com a sabedoria que apenas o tempo dá. Você também teve o seu…

Parabéns as mães, vocês sem dúvida merecem este dia..

Eduarda Renaux

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