Quem já não abriu o freezer em busca de sorvete e teve uma grande decepção ao encontrar o almoço da semana no pote branco de tampa azul/vermelha? Mas pelo visto não é só nas embalagens de nosso freezer que nos deparamos com surpresas!

O ocorrido com a marca Ades deixou de cabelo em pé muitos daqueles que contavam em sua mesa o saudável suco de soja. Deixavam seu refrigerante de lado, cheios de aromatizantes, corantes e açucares para saborear uma opção bem mais nutritiva com uma imagem de família feliz!

Meu objetivo aqui não é criticar ainda mais a marca Ades, afinal a mídia e redes sociais como um todo já se encarregaram disso. E não se engane! A Ades é só a marca da vez, pois são inúmeros os exemplos de quebra de confiança entre marcas e consumidores. Um exemplo que sempre me deixa boquiaberta são os pães integrais. Você deve olhar os valores nutricionais atrás da embalagem para se certificar que são integrais mesmo, isso porque uma pequena porção de trigo integral já é suficiente para se dizer integral. Será que não seria mais honesto colocar na embalagem: Pão semi-integral, então?

Mas a questão que proponho aqui é que tudo isso é reflexo de um mal-estar onde a embalagem não condiz com o conteúdo. Amplio isso para as relações humanas, já que estas são as que mais me interessam pensar.

Vivemos um tempo em que o discurso preconiza o “querer é poder e você pode ser tudo o que você quiser“. E quanto mais se comercializa a felicidade, mais antidepressivos são vendidos. Quanto mais se dita o ideal de beleza, mais a obesidade se torna um problema de saúde. Mais divórcios, mais trocas de emprego, mais mais. E onde tem excesso, tem sofrimento. A diferença entre o idealizado e o adquirido, mostra uma sociedade que vive o excesso e em consequência o sofrimento. Do que tanto sofremos, afinal?

Volto para o início desse texto: queríamos uma coisa e no lugar encontramos outra, e temos uma fragilidade tremenda em reconstruir aquilo que se quebrou na diferença do almejado e o encontrado. O problema em si não é a frustração, mas essa ser tomada como fracasso e perda irreparável.

Como vivemos um momento da história em que perder esta fora de qualquer plano, vamos trocando de parceiro em parceiro, de emprego em emprego, de amigo em amigo, para não se frustrar e não mostrar nenhuma falha para o outro. Tento explicar: Existe um tempo específico cronológico e subjetivo para começarmos a lidar com as falhas recíprocas que vão aparecendo em qualquer relação. Todo o início de namoro é perfeito, todo o início de emprego é novidade e aprendizado. Vai chegando o momento, que só o tempo vai possibilitando, que são essas trocas de limitações. Se consigo cortar o vínculo antes que as limitações apareçam, logo sou um eterno potencial, um projeto piloto perfeito, “só não consegui, pois não tentei.”

Abaixo uma tira que achei de uma delicadeza e de uma verdade que merecia ser compartilhada…

Sair do anonimato penso que se trata disso: Correr riscos, apostar! O laborioso não é o aparecer em si mas o que fazer com aquilo que aparece, com aquilo que não controlamos…o previsto e o imprevisto.

Essa medida trata-se justamente da possibilidade que temos de decepcionar e ser decepcionado, surpreender e ser surpreendido. Saindo do campo apenas do idealizado corremos menos riscos de sermos confundidos socialmente com um pote de sorvete numa prateleira, e nos tornamos com mais jeito e cara de gente.

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