Onde foi que nos perdemos e que passamos a acreditar que inteligência é nota boa ou falar bonito?  Os conceitos de inteligência emocional, resiliência desconstroem a ideia de que ser intelectual é ser inteligente. Inteligência é a possibilidade que temos de criar saídas diante das dificuldades que aparecem no cotidiano. Inteligência e criatividade estão muito ligadas, pois elas não são mecânicas, são subjetivas e singulares. Existe uma diferença crucial entre reproduzir conhecimento e buscar dentro de si o que se sabe.

Uma das cenas que mais me encanta na clínica com crianças é a forma como elas associam livremente através de perguntas difíceis que convocam os adultos a serem criativos e inteligentes o suficientes para responder de forma clara e simples o que estamos acostumados a transformar em complexo e rebuscado. “De onde vem os bebês? Para onde vão os mortos?”. Não se trata de ler uma cartilha de reprodução sexual, tampouco de discursar a obra de um filósofo que teoriza a morte.

E para criar respostas e soluções as crianças não deixam por menos e pronunciam o famoso “Já sei!” ou “tive uma ideia”. A brincadeira esta a pleno vapor e assim que uma problemática aparece a criança se antecipa e afirma “Já sei! E se….fizéssemos tal coisa”. Parece tão obvio, mas não é.

O adulto perde muito essa posição de permitir-se afirmar que sabe, que não precisa ir no livro, na sala de aula ou perguntar ao mestre, mas de acessar algo dentro de si. Sem medo ou vergonha de deixar vir, deixar aparecer, deixar revelar. A verdade é que sabemos muito sem saber que sabemos. E bloqueamos de diversas formas o acesso a esse saber. Freud diz que temos acesso a essa sabedoria velada através dos sonhos, dos chistes, dos atos falhos e da livre associação.

A vergonha e o medo são afetamentos particularmente muito presentes na vida do adulto, que vacila diante do que sabe. A criança sabe, o adulto duvida. A criança cria, inventa. O adulto recua, alimenta a insegurança. Enquanto a criança diz que sabe, o adulto diz que não sabe. O “já sei” é desejoso, é emoção, é ato. O “não sei” é inseguro, é racionalização, é engasgo.

Nesse ano que se inicia, que possamos reconhecer o que sabemos, menos teóricos e mais experimentais, mais viventes. Isso pode ser um bocado inteligente. Para isso, Haja sonhos, lapsos, falhas e livre vivência.

Eduarda Renaux