Sempre me foi uma questão difícil diferenciar os famosos ditos populares “em cima do muro” e “meio termo”. Pensava o sujeito “em cima do muro” como aquele que era impossibilitado de escolher e bancar o lado que escolhe. Já o sujeito movido pelo “meio termo” seria aquele que consegue gozar de uma vida ponderada e comedida. Consegue conter-se dos impulsos e renunciar os extremos.

Mas o “meio termo” me parece uma forma de criar uma artimanha para ainda assim conseguir satisfazer todos os lados. Diferenciar esses ditos é um caminho traiçoeiro porque em sua raiz eles se equivalem, apenas suas intensidades, quem sabe, são diferentes.

Falar de escolhas de vida, é algo muito mais complexo do que as opções que temos no dia-a-dia. E atualmente elas se reduziram a isso, virou uma banalização. A liberdade individual é inegável porém questionável, pois dificilmente temos notícias do que rege nossas escolhas. Referir liberdade sentindo-se preso é um paradoxo.

A livre escolha trata de uma separação: Diferenciar-se do que o outro quer de nós e construir o campo de nossos próprios ideais. Esses momentos surgem quando somos fisgados pelo desejo e nos vemos convocados a responder por nós mesmos. Toda a escolha que fala verdadeiramente de nós é sentida como ousada e por isso árdua.

É muito comum após renunciarmos escolhas sintomáticas, movidas pelos anseios e conflitos, sentirmos uma profunda solidão. É como um quarto bagunçado, cuja a bagunça faz ocupar o espaço inteiro. Colocando cada coisa em seu lugar, descartando aquilo que não nos serve mais, nos deparamos com alguns vazios e o livre espaço do cômodo. Esse é o livre espaço da criação, do desejo. Mas nos vemos mais sós, ou quem sabe, nos enxergamos melhor, sem os restos do outro ecoando em nós.

Escolher é se deparar com as consequências da escolha, mas também tem sua outra face, que me parece a mais importante: escolher é uma consequência de nossa posição subjetiva. Uma escolha não é causa, mas efeito do que conseguimos suportar de angustia que a liberdade nos causa. Em outras palavras: Não são nossas escolhas que nos mudam, são nossas mudanças que nos possibilitam escolher.

Por isso muitas vezes nosso pedido de ajuda advém de um momento em que vemos a necessidade de mudar. A mudança é um processo, se trata de construções que são de ordem psíquica e por isso nos alteram, mudam nossa posição diante da vida.

Seja “Em cima do muro” ou no “meio termo” não conseguimos alcançar os extremos necessários para romper com nossa inércia. Não é por acaso que o ponto de partida não começa pelo meio, mas por um extremo. E partida tem seu amplo sentido, por um lado remete a começo, ato de sair. Por outro, de dividir em partes, ou seja, fala de uma separação. E toda a separação é acompanhada por um luto daquilo que se foi.

Quem sabe, essa sensação de solidão transitória seja a ressaca da liberdade de ousar desejar e a liberdade de poder estar em constante transformação.

Eduarda Renaux