O amor não faz sentido, ele dá sentido. E ai que mora o perigo e por isso também tão difícil de ser explicado. Diria que o que compõe o cenário da vida esta sempre em torno do amor e da perda. Nascemos e vivemos amando e perdendo. Atualizamos a cada relação a nossa forma de amar e ser amado.

O amor protetor, o amor controlador, o amor ausente, o amor deselegante, apaixonado, possessivo, exclusivo, atrapalhado. O amor possui várias facetas e não pode ser definido em um dicionário universal. Cada um defini a sua forma e a partir de sua história e experiência. Diferente da paixão, o amor é uma forma mais profunda de fazer laço, absolutamente singular de cada um e que toma forma mais autentica com a intimidade.

Bem, comecemos pelo início! Todos nós já fomos dois em um. Experienciamos desde o nascimento que mesmo com dois corpos já separados eramos uma extensão da mãe, uma relação de dependência física e psíquica extrema. A mãe, nosso primeiro amor, foi também nossa primeira privação e frustração. Se tudo correr bem, a mãe não se contem apenas com o filho, ela vai querer mais da vida. Ali começamos a ter de lidar com a perda do amor todo. E é essa perda que restaura/possibilita nossa capacidade de amar outras pessoas.

Como vou seguir amando se me basto sozinho? Algo deve faltar para que possamos abrir espaço para que um outro entre na turbulência da nossa vida. Por isso a perda do primeiro amor simbiótico é a nossa perda originária, primordial. Amamos para perder e para poder voltar a amar!  A simbiose com alguém não abre espaços, não possibilita faltas, diferenças, ausências.

Seria amar, no fundo, uma tentativa de fazer duas vidas uma só novamente? Aquela plenitude primitiva registrada em cada um de nós?  Hoje mesmo ouvi uma fala muito interessante de uma mulher angustiada com o alvo de seu amor: “Sabe como é, homem de mais de 40 anos que não casou ou não gosta de mulher ou é da mamãe“. Não contive a gargalhada. Não se trata de ciência, mas de um saber já compartilhado. Se não saiu do lugar é porque não precisou!

Não se trata de perder a mãe, ficar órfão (é uma condição psíquica e não concreta, por isso órfãos põem manter essa condição), mas perder o amor simbiótico e adquirir uma singularidade.Lacan nos dizia: “Amar é dar aquilo que não se tem”.

Por isso repito que o amor e a perda (falta) são indissociáveis. Mas fingimos muito bem não saber disso, e seguimos querendo tudo e mais um pouco. Muitas pessoas seguem a vida buscando amores plenos. Quem mais entende disso são os ciumentos extremados. Para os ciumentos de plantão o medo de perder o objeto precioso é devastador.

Sem a pessoa ficam sem identidade, algo em torno: “se ele me ama, sou mulher. Se ela me ama, sou homem”. Isso toma tamanha a proporção que perder o amado não é apenas perder uma referência, mas cair em ruína. O amor em sua totalidade é inegociável. E justamente por ser insustentável essa demanda,que  o ciumento é especialista em promover perdas. A psicanalista Angela Bulhões lembra que no idioma havaiano, ciúme também pode querer dizer despedida. É extremamente sagaz a tradução pois temer é uma forma de antecipação.

“Como pode ter outros interesses além de mim?”, uma novela que todo mundo já viveu. Freud já dizia: “Como fica forte o humano quando tem a certeza de ser amado“. Disso não tenho dúvida! Pois padecemos de amor e nos curamos através dele. Não é estático, nem natural, o amor é demasiado humano bem como suas complexidades! E como tudo na vida, inclusive a vida, não é para sempre.

Mas que seja eterno enquanto dure…