Nosso papel enquanto geração esta ligado desde um sentido mais amplo, onde fazemos parte de uma sociedade, e como agentes sociais, temos o dever de promover a diferença em meio as repetições mortíferas que testemunhamos no nosso mundo. A pobreza, a poluição, os abusos, a violência. Todos nós temos alguma ligação com isso e um papel de intervenção.

Num sentido mais específico, estamos também, inseridos em uma família, carregamos o sobrenome que nos antecede. Nossa história começou muito antes de nosso nascimento e não acabará no dia de nossa morte. Por isso, os filhos são a promessa da imortalidade, pois sabemos que as próximas gerações irão carregar as marcas que deixamos, os desejos não realizados.

Fazer parte de uma geração não é simples, carregamos muitas vezes fardos pesados e histórias difíceis. Não raro os filmes que mais lotam as bilheterias e premiações de cinema são baseadas em histórias de superação. Algumas ficcionais e outras embasadas em fatos reais. Na minha opinião ambas se equivalem, pois toda a ficção carrega verdades e toda história real é também uma ficção.

Nossas histórias são atravessadas por uma série de fantasias e versões, mas nem por isso menos verdadeiras. Os fatos batem com a realidade? Tratam-se de recordações não muito confiáveis? Pouco importa! Operam em nós como se fossem o que há de mais verdadeiro. Algumas marcas são tão doloridas que somos acometidos pela sensação de que são insuperáveis. Sentimo-nos aprisionados pelas impressões que deixaram.

E por isso nada melhor do que tomar emprestado as histórias que gostaríamos de viver. Através da tela do cinema, deslizar na vida. Se existe um elo comum nessas histórias, diria que não reside apenas na força de vontade do protagonista que tanto sofre. Mas na aposta que alguém fez nesse personagem. Exemplo: O papel do Fonoaudiólogo no filme “O discurso do Rei”; O papel da torcedora fanática no jovem jogador de futebol americano no filme “Um sonho possível”; ou até mesmo o burrinho na vida do Shrek. Afinal, não esqueçamos que o Burrinho sempre duvidou dessa “panca” de mau que o Ogro encarnava, ou seja, de burro não tinha nada…

Um filme em cartaz do momento é Cloud Atlas, na versão em português “A viagem”. Simpatizo com o título original. E só tenho uma palavra a dizer: assistam! Para aqueles acostumados aos 100 minutos habituais e confortáveis de filme, preparem os ânimos e disposição pois “A viagem” conta com exatos 180 minutos.

O filme condensa passado, presente e futuro em torno de uma mesma problemática: Quando fazemos do outro o objeto de nossas necessidades. O tema é antigo, atual e tem perspectivas para continuar moderno por muito tempo. Mas a reflexão sobre a prevalência de uma raça superior e os abusos que frequentemente testemunhamos, deixo para uma próxima.

Vou me deter a frase que marcou meus pensamentos durante as duas últimas semanas: “Nossas vidas não são nossas. Estamos vinculadas a outras, passadas e presentes. E de cada crime e cada ato generoso nosso nasce o futuro.”

O ato de generosidade citado, em minha leitura, se trata das apostas que decidimos fazer ou não nas pessoas. Esse texto não será sobre aquele que sofre, mas sobre pessoas que frente ao sofrimento ou condição vulnerável do outro, investem em uma possível mudança, um caminho diferente. E exatamente por isso, é dado a chance de esse alguém renascer e fundar um futuro.

Para o suposto jovenzinho fraco que sempre se percebe sem condição de enfrentar as dificuldades da vida, o que vale é passar-lhe a mão na cabeça ou dar-lhe outro lugar? Dar-lhe coragem para enfrentar e não incentivar ainda mais seu medo. E a menina, que vai mal na escola, rotulada de “tolinha” pelos próximos? Será mesmo frágil cognitivamente ou de tão desinvestida não consegue vislumbrar um futuro diferente para si?

Me pergunto quantos estudantes foram salvos por colegas de classe que viram neles algo que ninguém mais enxergava. Fala-se tanto de Bullyng, mas colegas de sala não apenas rebaixam, mas também apostam. Assim como aqueles professores que mais nos marcaram.

O ato generoso, desse modo, não esta apenas nas doações para o abrigo do bairro. O ato generoso pode ser emergencial dentro de casa, no vizinho, nas panelinhas de quinta-feira, no local de trabalho.

As vezes tenho a impressão de que subestimamos as pessoas, achamos que elas não possuem recurso ou possibilidade de reinventar-se. Devem ficar desde onde pararam. Mas quem sabe precisem de um incentivo, de um novo olhar, de uma diferença e não de alguém que faça por elas. Ou seja: Apostar na possibilidade que cada um tem de dar conta de sua própria vida e por vezes iluminar isso quando estiver escurecido, isso é ato  que pode fazer nascer um futuro para alguém.

Para os que possuem a convicção de que apostar é proteger, diria que a vida não irá proteger o filho, o amigo, o pai, o irmão protegido. O que seremos quando crescermos? Não seremos apenas uma profissão, espera-se que mesmo diante de falhas e dificuldades, sejamos grandes. E tornar-se grande num lugar diminuído é particularmente difícil

Acredito que somos capazes de mudar a direção de muitas vidas, basta nos atentarmos a isso.