Hoje meus avós completam sessenta anos de casados. Como moram no Rio de Janeiro, a prestação de uma homenagem fica a distância. Bendita seja a tecnologia do telefone. Claro que ver a pessoa, tocar, olhar nos olhos, tem um sabor especial. Mas acredito que a voz e as palavras são os ingredientes essenciais para fazer presença.

Mas um casamento não. É literalmente no tato do dia-a-dia, na convivência, na cumplicidade e, diga-se de passagem, na paciência. Poucas coisas na vida são tão complicadas como uma vida a dois. Queremos ser UM o tempo todo! Fazer as mesmas coisas, ter os mesmos gostos, recusar a diferença, sem nenhum terceiro. Acredito que alguns casamentos estremecem após ter filhos por isso. Um novo membro nessa relação passa a ser insuportável. Mas em geral, casamentos sobrevivem a esses tipos de simbiose, sobrevivem até aos delírios de ciúme. Mas viver uma vida inteira a DOIS, juntos, porém tendo sua singularidade é para poucos. Seria como os olhos poderem ver, o coração sentir e suportar o que se viu e o que se sentiu.

Minha mãe que estava lá essa manhã me conta que hoje Berto acorda e fala para Julia: Nunca imaginei que iria viver tanto. Ela responde: eu também não. Nas trocas carinhosas, ele diz que só ficaram tanto tempo juntos, pois nunca achou uma mulher tão bonita como Julia e Julia diz que apenas ela poderia suportar as manias de Berto. Ali se fundou o resumo de uma relação entre homem e mulher.

No fundo o que uma mulher deseja é ser amada, ser a mais bonita aos olhos do parceiro. Ela sobrevive aos mais fatídicos acontecimentos desde que se sinta olhada, quista pelo marido. E por isso comumente vemos os famosos “pitis” tipicamente femininos, em busca de um lugar desejado na relação. As feministas que me perdoem, mas isso não tem a ver com igualdade dos sexos, mas a diferença necessária para que um casal seja de fato um casal e não duas pessoas que rivalizam em todos os aspectos. Ponto para Seu Betinho, acertou em cheio o que a Dona Julia poderia querer ouvir: nunca achou alguém mais bela!

Julia fala uma verdade, quando diz sobre “aguentar as manias”. Para além do apego a rotina e a organização que muitos homens exercem, o que escutei dessa frase é que uma mulher precisa dar lugar ao seu marido. Nada mais devastador para uma relação que mulheres que destituem seu companheiro, não dão espaço para que ele brilhe de alguma forma e sinta-se com a virilidade necessária. De fato, por mais que minha família sempre buscasse mais as opiniões da matriarca, minha Vó nunca excluiu meu Vô da cena. E isso testemunhei muitas vezes (não por telefone, é claro!).

Devorei livros de psicologia para tentar entender como se dá uma relação amorosa (doce ilusão tentar teorizar a prática! É canoa furada!), mas minha Avó mata a charada na ligação quando pergunto: Qual a receita desse casamento? Eis a resposta: Amor e respeito. Ao contrário do que se imagina, o amor não passa pelo corpo perfeito, pelos bens financeiros (não só, pelo menos). Para durar, a ponto do corpo decair, o dinheiro se acabar e ainda permanecerem juntos, uma mulher deve se sentir amada com palavras e o homem sentir-se respeitado através de ações. Na minha opinião, dessa forma, ambos sentem-se amados e respeitados.

Se tem uma recordação que sempre carrego comigo, são as cenas de meu Avô andando de bicicleta. Quando eles ainda moravam na Gávea-RJ, lembro-me de uma cena em que andaram juntos no Parque da Gávea. Sempre achei bicicleta e guarda-chuva objetos que me parecem representantes dos apaixonados. Bicicleta, hoje sei porque. Espero um dia lembrar da história do guarda-chuva!

Obrigada queridos Avós, pelas bodas e palavras de diamante!